quarta-feira, 29 de abril de 2009

O Electrodoméstico Arquitecto

Há muitos anos atrás (no tempo dos nossos pais e avós) começaram a entrar, nas nossas casas um conjunto de aparelhos eléctricos a que damos o nome de electrodomésticos.

No início estes aparelhos pretendiam ser altamente resistentes e a sua durabilidade era um factor importantíssimo para o seu êxito.

Com a entrada na modernidade e com o acelerar do desenvolvimento estes aparelhos aumentaram em número e a sua durabilidade passou rapidamente para segundo plano.

Hoje, não interessa muito que o aparelho dure muito, pois no mês seguinte já vai existir um novo aparelho melhor e mais barato, e nós deitamos fora o que temos e vamos, a correr, comprar a nova versão. Como sabemos isto acontece com tudo o que é tecnologia. O desenvolvimento e a modernidade a isso nos obriga.

Temos que acompanhar os tempos e não podemos perder o TGV que cada vez anda mais rápido.

Tal como com os aparelhómetros eléctricos, electrónicos, digitais e afins, os Arquitectos também se tornaram em profissionais descartáveis. A velocidade de “desenvolvimento” e actualização contínua, imposta pela tecnologia e pela sociedade tem vindo a fazer com que a maioria dos profissionais desta área não se encontrem adaptados e não estejam preparados para exercer a profissão.



Na área da Arquitectura, todos os meses, todos os anos, mudam as regras de realização e aprovação de um projecto de Arquitectura. E mudam de forma diferente em cada uma das Câmaras deste País.

Quando me refiro às mudanças de regras, não me estou a referir ao Projecto de Arquitectura em si, mas antes à forma como ele é “embalado”.

Também aqui, na Arquitectura, o “embrulho” tornou-se o factor principal e determinante. O Projecto pode ser óptimo mas se não tiver sido feito em autocad, não estiver em formato Dw qualquer coisa, que no mês que vem já é outro DW qualquer. Enfim... isto é assim nesta Câmara, porque se o projecto fôr na Câmara ao lado de certeza que o formato já é outro ou não é nenhum.

Mas, se o projecto fôr uma merda que vem em Autocad e no formato DW qualquer coisa e cumprir o regulamento A e B e C e...G, H e Y, e...Y e Z e AA e...e...e tudo e mais alguma coisa que o legislador – esse Senhor que ninguém sabe quem é, pois ele é muito humilde – que faz o miserável Arquitecto camarário senão aprovar? Se não aprovar tem que justificar e de certeza tem algum interesse obscuro.

A legislação nacional muda ao ritmo das estações do ano e os regulamentos e normativas camarárias tentam imitar o nacional para mostrarem à “populaça” que estão a trabalhar.

E os Arquitectos que há uns anos atrás duravam uma vida, hoje, quando saem da Faculdade, já estão desactualizados. E a culpa é deles que não se actualizam e não participam nas acções de formação contínua da Ordem dos Arquitectos.

Mas o desenvolvimento é assim mesmo, nós temos que apanhar o TGV da modernidade. A Ordem dos Arquitectos está de acordo e os maus são os Arquitectos desactualizados que não pagam as suas quotas...

(ilustração de "Abelha Mestra")

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