quinta-feira, 9 de julho de 2009

VINHO TINTO


Há vinte anos que juntei os trapinhos com a minha ex-mulher.

Muito embora esteja divorciado, os meus filhos, fizeram questão de nos juntar e fazer uma festa. Eles ainda têm esperança que eu e a mãe retomemos a nossa relação.
O jantar foi cabrito assado no forno à padeiro, acompanhado com batatas e arroz do forno.
Temperado, na véspera, sai sempre bem! Estava divinal! Como só ela faz!
Seria enfadonho estar a explicar …o importante é que sabe muito bem!

Uma hora antes abri uma garrafa de vinho tinto….enfiei o saca-rolhas e puxei… Poc!...
Cheirei a rolha …como fazem os escanções…isto vai aquecer!


Deitei no copo e provei depois de agitar e comecei a divagar:
Cor rubi….Encorpado… Sabor aveludado Frutado …..
Olhei para o rótulo, para confirmar o ano da colheita e as castas daquele néctar.
Passei o vinho para um decanter e deixei a abrir… até à hora de jantar.

Eu apanhei a mania de dizer que não gosto de vinho. Digo que bebo e tapo o sabor do vinho com a comida. Isto significa que gosto mais de comer que beber.
Mas quando o vinho é de cinco estrelas, começo a vacilar e sem saber se bebo para comer ou se como para beber!

Como tenho um nariz comprido e a boca escondida por detrás do bigode tenho uns copos especiais para o tinto… uns copos que são maiores que um garrafão e têm uma boca mais estreita que a barriga… dizem os entendidos que é para o aroma não sair do copo.
As coisas que eu sei… ou penso que sei!

A inveja que eu tenho é não ter uma farda tipo Infante D. Henrique e não ser confrade de uma qualquer confraria do Douro ou Alentejo. Tal como Fáfá de Belém, Luís Figo, José Saramago, etc.
Com a minha barriguinha, aquela vestimenta, assentava-me mesmo bem!
Os miúdos que já tinham tudo combinado, jantaram e puseram-se a milhas, foram para a discoteca abanar o capacete.

Fui procurar, entre os discos de vinil , um especial e pus uma música do Patxe Andion “20 aniversário - Palavras “ que muitas vezes compartilhávamos.
Peguei-lhe na mão arrastei-a para o meio da sala e dançámos… apaixonadamente… como nos velhos tempos.



Ali fiquei eu e a minha ex a recordar as coisas boas da vida.
Com o vinho fiquei mais desinibido…continuámos a beber acompanhando com queijo de Niza… entrámos na noite.
E acabámos na cama onde matámos desejos e recordámos paixões!

TIM TRIM TIM TRIM TIM TRIM….. Onde está esta geringonça ! Raios parta o telemóvel mais quem o inventou. Acordei do sonho! O T e o esquadro caíram no chão com estrondo.

Estava sentado na cadeira de madeira e com os braços e a cabeça sobre o velho estirador…A garrafa, vazia, estava no chão e não sei como ali fui parar!
A boca sabia a papeis de música.
De vez em quando venho recordar, como se trabalhava antigamente, no ATELIER!
- Estou?... Diga por favor?
- Um projecto para Sintra? Não pode ser !....Sim sou Arquitecto, mas não posso projectar ….O Presidente cortou-nos a possibilidade de fazer projectos…Não estou a brincar… é mesmo verdade.
Bom dia… Passe bem.
Dê um abraço ao meu amigo que me recomendou!

Mas o sonho acabou e tive que voltar à realidade, tive que pôr os pés no chão.
Porque será que os sonhos são sempre melhores que a realidade?
Porque será que não nos deixam ser felizes?

Tomei um duche rápido…Olhei para o relógio e já devia estar na Câmara a fazer horas….Jogar às paciências, no computador…ler o jornais diários na Internet e esperar que um processo me caia na secretária.

Eu sei que a fiscalização está cheia de trabalho, mas não há carro e pertence a outro Departamento. Eu já me ofereci para ajudar, mas não pode ser!
Eu até já trabalhei a bater recordes todos os dias…mas agora só penso em justificar o que não faço!

Porque será que cada dia que acordo e tenho que entrar na Câmara se torna um pesadelo!?

E tenho de fazer um sorriso amarelo e forçado para cada pessoa que encontro...

5 comentários:

O Galego disse...

Quero dedicar esta canção romântica, do meu compatriota Patxe, a todas as amigas e colegas da Câmara.

"O Arquitecto" disse...

A Bruxa de Campolide deu-te a volta!

Volta lá, pois os teus textos estão a melhorar!

Um abraço do "Arquitecto"!

Numerobis disse...

Ó Galego, tens de me dar a morada da bruxa, pois ando a ficar desincentivado!

"O Arquitecto" disse...

Gostei, especialmente, do sorriso amarelo!
Nós somos amarelos!
Asssumidos!
E ainda bem! Somos poucos mas sempre vivemos no deserto.
Antes amarelos que cinzentos e salgados...
Um destes dias vamos ser expulsos...mas paciência...é a vida...ou a falta dela!

Anónimo disse...

Não precisa de ir à bruxa!
Basta mudar a cor do sorriso! E pensar que está no «Metro»!...