segunda-feira, 22 de junho de 2009

A GRANDE ENTREVISTA (3ª Parte)


Jornalista: Mas, Senhor Presidente, cada vez há mais chefias e assessores com viaturas camarárias e gasolina paga pelo erário público para uso privado. Todos os serviços estão concentrados neste edifício e teoricamente estas pessoas não têm deslocações de serviço, e se as têm, ocasionalmente, existem carros de serviço e motoristas para essas deslocações. O que me diz sobre isto?

Presidente: O que lhe digo é que o Senhor não pensa, não vê nada, enfim… ainda não entrou na "nova cultura".
As chefias e Assessores têm carros atribuídos da autarquia porque, principalmente nesta fase de transição, todos os dias têm que levar trabalho para casa. Está a ser pedido a estas pessoas um esforço enorme que não se esgota nas horas que passam nestas instalações, mas antes pelo contrário, se prolonga em horas extraordinárias nas suas casas, muitas das vezes com prejuízo das suas famílias.

J.: Não entendo. Peço desculpa, mas agora não estou mesmo a perceber. Sr. Presidente, na área do urbanismo, as referidas chefias têm uma vasta equipa de técnicos a trabalhar e a informar processos fazendo a "papinha toda" às Chefias… estas só têm que dar despacho aos referidos processos. Não estou a ver onde está a ser pedido esse enorme esforço a que o Senhor se refere.

P.: Pois… você não vê nada, porque está fora do espírito da "nova cultura".
Eu vou explicar-lhe.
Os técnicos que você diz que informam os processos e que fazem a "papinha toda" às chefias, que fazem? Informam os processos do ponto de vista técnico e pronto… têm o seu trabalho feito.
As chefias têm outras responsabilidades: primeiro têm que ver quem é o requerente e o técnico que assina o projecto. Têm que ver quais as relações entre eles e os seus antecedentes em processos na Câmara. Têm que ver pelo menos até à terceira geração quais as origens destas pessoas e como pretendem enganar o município. Depois desta fase têm que ver quais as ligações destas personagens ao técnico que informou o processo – almoços, prendas, processos anteriores, etc. e por fim têm que analisar todo o processo em termos de propriedade, legitimidade e proposta. Depois de todo este trabalho têm que ler a informação técnica de forma a puderem emitir um Despacho coerente e consciente. E muitas das vezes ainda têm que solicitar ao seu superior hierárquico opinião sobre o sentido do despacho. O Senhor acha isto pouco trabalho? O Senhor continua a dizer que a "papinha está toda feita"?

J.: Não! Não! De forma alguma... agora já começo a perceber... mas, mesmo assim... diga-me Senhor Presidente, esse trabalho não deveria ser feito durante o horário normal? Será mesmo necessário levar processos para casa... à noite, trabalhar ao fim-de-semana, enfim... criar tanto incómodo a tantas famílias?

P.: Meu caro, neste momento é necessário! Esperamos que dentro em breve com a implementação da "nova cultura" este esforço não seja necessário. Mas por enquanto é inevitável. As chefias durante o horário normal têm que fazer rondas periódicas aos serviços para ver como as suas orientações estão a ser postas em prática, têm que detectar os focos de instabilidade, têm que receber "requerentes prioritários"... enfim têm uma série de tarefas que com a implementação da "nova cultura" se irão diluindo e... temos esperança irão atenuar este esforço.

J.: Senhor Presidente, ao longo desta entrevista, por várias vezes me falou na "nova cultura" e… sinceramente, ainda não percebi como funciona ou o que quer dizer com essa expressão… poderá V. Exa. explicitar o que quer dizer ou qual o conteúdo prático dessa expressão?

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