Eu sou duro de ouvido! Duro que nem uma porta!
Quando era puto pensava que sabia cantar, mas um dia fui expulso da aula de canto coral sem apelo nem agravo e acabou-se a mania.
A professora estava a escolher vozes para o coro da escola e lá fui eu com voz de frango assado
-Repita comigo.
- Lá… lá… lá… lá… lá… lá…lá
Eu lá repeti.
- Está a gozar na minha cara?...Ponha-se na rua … imediatamente! … Isto é uma aula!
Ainda hoje estou para perceber o porquê da expulsão. Eu não estava a gozar com ninguém!... Eu dei o meu melhor!... Eu até me esforçei! E deve ter sido por isso que fui posto na rua.
Ao ver o programa dos "IDOLOS" é que percebi a figura que devo ter feito, mas eu não me ofereci como voluntário, fomos todos ouvidos.
Há música que mexe connosco. Já me vieram as lágrimas aos olhos quando no Casino do Estoril, estava a ver uma exposição etnográfica e do silêncio rompe um grupo de mulheres a cantarem cantares populares acompanhadas com batuques de adufes.
Senti as minhas raízes naquela música!... Aquele som! … Tinha a ver comigo! Era meu!... O meu nascimento foi ao som desta musica!...Só pode!
Um dia, ia a passar na rua e da saudosa loja MELODIA saía um som maravilhoso da Orquestra dirigida por Leonard Bernstein tocava a Carmem de Bizet, entoava enchendo a Rua do Carmo. Foi um impulso, entrei na loja e pedi o disco que estava a tocar.
Dos poucos concertos a que fui, não aguentei! Vim para a rua no fim da primeira canção, rebentavam-me os tímpanos. Não suporto barulho, nem o ruído dos instrumentos sobre a voz dos quais não distingo nada! Não oiço música! Só barulho, que me entra na cabeça e faz perder os sentidos!
Eu gosto de ouvir boa música, mas tenho que estar bem instalado num sofá a relaxar e não pode ser com o volume no máximo.
Há restaurantes que dão musica aos utentes. Quando estão vazios a musica é calma e romântica, mas se começa a encher e têm necessidade de lugares... começa o som a aumentar, a batida a acelerar e o pessoal a dar aos dentes ao ritmo da música.
Recebemos ordens e estímulos de todos os lados. O pessoal do consumo tem tudo estudado até ao mais ínfimo pormenor.
Gostava de saber qual o critério para a selecção das musicas que passam nas rádios portuguesas? Resumindo, eu penso que é assim: Se é Português …Não presta! Já está!
O álbum dos Humanos com canções de António Variações foi rejeitado nas rádios. Só depois das canções se imporem na televisão e telenovelas, como o caso de "Dona Albertina" e das "Rugas" - e passar a ser disco de platina - é que admitiram passar o álbum!
Li recentemente uma notícia que me deixou indignado, sobre o último disco dos XUTOS a célebre "…Sem eira nem beira", dedicada ao engenheiro Sócrates.
A música foi varrida da rádio…os directores das rádios, proibiram a emissão da canção…
"…Senhor Engenheiro
Dê-me um pouco de atenção
Há dez anos que estou preso
Há trinta que sou ladrão
Não tenho eira nem beira
Mas ainda consigo ver
Quem anda na roubalheira
E quem me anda a comer…"
Que cambada de serviçais que dominam as rádios? Pessoas sem coluna vertebral! Estes tipos são directores porque fazem o que lhes mandam. Não por pensarem com a própria cabeça!
Se o Sr. Engenheiro Técnico Sócrates, com licenciatura comprada na Universidade Independente, se sente tão incomodado com a canção, porque não tira conclusões e se emenda?
E não é que deixei mesmo de ouvir a canção!... Cambada de carneiros!
Será que voltamos ao antes do 25 de Abril? Só que agora a censura é feita pelos próprios directores das rádios. Uma vergonha!
"… Vivo com uma faca espetada nas costas, ai! Que bom que é…"
Dizia o Sérgio Godinho numa das suas canções.
Eu também tenho uma faca espetada nas costas.
Eu e todos os funcionários desta Câmara e pela cara do pessoal que encontro nos elevadores, no bar, na rua e na Divisão não é bom! Não é nada bom!
Mas isto é outra musica, daquela que pia fininho! Mexe com a nossa situação e com o futuro dos funcionários e das famílias!
1 comentário:
Boa Galego. Sempre, sempre pertinente.
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