quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Uma história digna de Kafka (Continuação)


Ia voltar noutro dia! E voltou no dia seguinte.

Foi cedo, como no dia anterior, e encontrou novamente o jovem simpático... já havia “sistema”!

“Óptimo! – pensou o velho Arquitecto – É hoje que isto vai ficar esclarecido.”

Expôs ao jovem o seu problema...mostrou-lhe a documentação... e o jovem, por seu lado, foi logo consultar o “sistema”...

Após a consulta dirigiu-se ao Arquitecto e disse-lhe: “Não tenha receio, pois está tudo pago e não há dívidas!”

Mas, isso já o Arquitecto sabia desde o início!!!

E, o jovem continuou: “Tem que preencher este requerimento e eu vou tentar ter a certidão pronta lá para Terça ou Quarta feira da próxima semana.”

O Arquitecto olhava para a fotocópia mal tirada que o jovem lhe tinha dado e não queria acreditar no que ouvia...

Só a simpatia do jovem fazia com que o velho não explodisse de fúria e raiva...

“Desculpe, mas o Senhor não vê, aí no sistema que está tudo pago?... Então porque é que não me emite já a Certidão?” – perguntava o Arquitecto, educadamente, tentando controlar-se.

Não é possível porque tenho que pedir o “processo” e posteriormente ser Despachado pelo Chefe da Repartição.

“E não me pode dizer qual é a origem da penhora?”

“Não! Agora só quando vier o processo é que poderemos saber!”

O Arquitecto desistiu!!! Tudo aquilo lhe parecia falso e mentira e cada vez que fazia mais uma pergunta, mais ficava convencido que o jovem para além de simpático também era incompetente. Nada podia fazer... voltaria na semana seguinte...

E, assim foi!

Na semana seguinte, mais uma vez, bem cedo, o Arquitecto dirigiu-se pela terceira vez ás Finanças da área da sede da Empresa.

Depois de tirar a senha e esperar, lá surgiu o jovem que logo o informou que a dita Certidão ainda não estava pronta!

A paciência do Arquitecto acabou naquela altura!!!

“BASTA!!! – disse o velho com a voz um pouco alterada - Hoje, vai ter que me explicar tudo isto muito direitinho!”

O jovem ficou algo embaraçado! Nada tinha sido feito... o processo não tinha chegado ( e se calhar nem tinha sido pedido).

O Arquitecto exigiu-lhe explicações: “Afinal, para que serve o «sistema»?

O jovem, deveras embaraçado, dedilhava no teclado tentando encontrar respostas para as questões... até que, bruscamente vira-se para o Arquitecto e diz: “Desculpe, mas nós não lhe penhorámos nada!”

“Como? – replicou o Arquitecto – Vocês não são a Fazenda Pública?”

“Sim, somos! Mas não foi esta Repartição que o fez! Está aqui um código... aguarde um momento que eu vou ver quem é que fez a penhora.”

Passado um pouco, o Arquitecto ficou a saber que a origem da penhora efectuada, estava numa Repartição de Finanças, que ele desconhecia completamente, e que se localizava numa rua da Baixa. A causa da penhora era a falta de pagamento do IMI de há muitos anos atrás, que entretanto tinha sido pago, também, há muitos anos atrás.

O Arquitecto ia ter que se dirigir á dita Repartição de Finanças situada na Baixa, na Segunda-feira seguinte, pois, o jovem e simpático funcionário iria telefonar aos colegas para tratarem rapidamente da Certidão pretendida.

O velho Arquitecto teve dúvidas: apresentar queixa e fazer escândalo ou sujeitar-se, mais uma vez, a ir bater a uma nova porta...

Optou pela segunda hipótese... e, na segunda-feira seguinte lá estaria... na Repartição de Finanças da Baixa da Capital do Reino..

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Já é muito tarde e a história ainda é longa...amanhã, espero ter tempo para terminar...

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