sexta-feira, 15 de maio de 2009

GESTURBIX GRANITICUS - Parte II

Desde os tempos da Inquisicância Olisiponensis, que lançou às fogueiras meia dúzia de bruxas que não confessavam da mesma fé dos inquisidores, os arquitectos do burgo questionavam-se, agora com ainda mais intensidade, sobre a justeza da medida que os obrigava a martelar unicamente na pedra Gesturbix Graniticus.

Tanto mais que era sabido que outras classes, nomeadamente a dos escribas mas não só, podiam vender as suas artes esculpidas em mármore, moleanos, ou até mesmo em pedra sabão…

Desde sempre, tinham tentado contornar tal imposição, frequentando, mais ou menos clandestinamente, uma espécie de feira de imobiliário, onde os feirantes-construtores davam aos arquitectos lápides de pedra, nas quais estes esculpiam os projectos de palácios que lhes eram encomendados.

O valor desses projectos era sempre discutido pelos feirantes-construtores (denominação depois substituída por patos-bravos, após a conquista de Tomar...), esmifrando-o até ao último áureo, denário ou sestércio, consoante o seu status na comunidade.

É verdade que alguns feirantes-construtores disponibilizavam também lápides com projectos já feitos por outros artesãos da classe dos pintores de frescos, de duvidosa qualidade, que alguns arquitectos menos escrupulosos se limitavam a cinzelar com a sua assinatura…

E havia inclusivamente feirantes-construtores que entregavam veladamente aos arquitectos olisiponenses alguns calhaus de Gesturbix Graniticus, cuja comercialização não era permitida dentro dos muros da cidade…

Mas, pelo menos, era aplicado o artigo CCXXXº do Código de Hamurabi, o que conduzia ambas as classes a um especial cuidado no que se projectava e construía… Assim, se um arquitecto projectasse uma casa que se desmoronasse, causando a morte de seus ocupantes, era condenado à morte, e se uma casa mal construída causasse a morte de um filho do dono da casa, então o filho do construtor seria condenado à morte.

Este Código foi sendo porém ao longo dos tempos esvaziado de conteúdo pelos escribas, que o foram alterando ao sabor das vontades dos invasores pela introdução de excepções, republicações e declarações de rectificações, redigidas nas inúmeras e ininteligíveis línguas babilónicas, até se tornar um documento absolutamente ineficaz.

Uma vez que os arquitectos olisiponenses tinham sido desde sempre bastante mal pagos pelos Governadores de Província, viam-se obrigados a recorrer à dita feira de imobiliário, onde iam conseguindo arranjar umas pedritas por fora, complementando desta forma o magro salário auferido em sestércios, algures entre os níveis XXXI e XXXV…

Alfamix e Mourarix eram assíduos frequentadores dessa feira, porque acreditavam que o exercício da sua arte de arquitectos e o consequente resultado em sestércios ao fim do mês era um direito que lhes assistia, quanto mais não fosse para aliviar, nas horas vagas, as dores nas costas causadas pelas constantes movimentações de pedregulhos de Gesturbix Graniticus!

Edendum tibi est ut vivas, et non vivendum ut edas...
(comer para viver, e não viver para comer)

continua…

1 comentário:

O Galego disse...

Caro NUMEROBIS
A Xunta da Gallaecia em plenário decidiu democraticamente aceder ao convite.
As tropas estão reunidas e prontas para a batalha. Vamos por os sarracenos na ordem!
mas atenção tem condições!
Nos adoramos os prazeres da carne, vivemos para comer e não dispensamos uma boa posta de vaca barrosã.
Depois sim! Com as tropas reunidas e a barriga ceia,lançamos o grito de guerra:
" Até os comemos todos, Carago!"