Há muitos anos atrás, na Câmara Municipal da Capital do Reino, um velho Arquitecto, meio adormecido, consultava o seu mail (uma novidade promovida pela edilidade em substituição do famoso Solitaire) enquanto aguardava a chamada para mais um atendimento.
O telefone tocou, interrompendo a sua consulta do mail, - que continha dezenas de actividades inúteis de promoção do Município - a anunciar que o seu atendimento tinha chegado e se encontrava na mesa 21.
Lentamente, e com ar incomodado, - não era pessoa simpática e não gostava de ser interrompido - pegou no processo, levantou-se e dirigiu-se aos elevadores passando pelos colegas encaixados entre armários – na altura, há muitos anos atrás, a moda era o “open space” – e pensou com os seus botões: “Ainda gostava de perceber o que está esta gente toda a fazer aqui? No fundo, o mesmo que eu. Coitados, tinham que sobreviver. Se não fosse aquilo que fariam? Pedir esmola?”
As antigas paredes, do anterior edifício da Câmara, tinham sido substituídas por modernos head-phones. A sociedade daquele tempo vivia a embriaguez da tecnologia.
O elevador não demorou. “Que espectáculo! Não é normal! Por vezes demora cinco minutos...”
A porta do elevador abriu-se e lá dentro uma empregada de limpeza com ar de alcoólica e o seu carrinho com material de limpeza ocupava 40% do espaço, ao lado uma “menina” pequenina e bonitinha tinha um carro cheio de processos que ocupava outros 40% do espaço e ao canto um jovem engravatado – tinha ar de Dr. – ocupava o restante espaço. Com alguma dificuldade o velho Arquitecto lá conseguiu entrar e carregar no botão do 3º andar.
O elevador foi directo - coisa rara – para o seu destino. “Hoje o dia estava a correr bem.”
O velho Arquitecto, que não era tão velho como parecia, deslocou-se lentamente em direcção da sala de atendimento. Era um espaço amplo, também em open space – desta forma todos podiam ver e ouvir o que se passava – porque naquele tempo a corrupção era um dos maiores problemas sociais e havia que combatê-la. Havia um clima de suspeição permanente e a forma adoptada para resolver o problema tinha sido controlar todos os passos de funcionários e requerentes.
Chegado à mesa 21, o Arquitecto... “Uhau!”
(A "Histórias de Arquitectos" continua dentro de alguns dias)
sábado, 28 de março de 2009
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2 comentários:
"Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos..."
não conhecia.
me encontrei por acaso em
alguns versos.
Tudo o que disser pode ser usado para o increminar.
Esta gente não tem tino mesmo.
Por acaso é sindicalizado?
Tem as cotas em dia?
Quais as suas competências?
Que numero calça?
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