sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Ser Justo na forma e/ou no conteúdo?


Hoje, é Sexta –feira!
Por isso decidi publicar neste Blog um texto que um colega Arquitecto nos enviou há uns dias atrás.

No entanto, devido à forma e conteúdo do texto, decidi escrever uma justificação.
O texto é crítico do Blog na forma como transmite o conteúdo!
Critico em relação à forma, mas não em relação ao conteúdo!

Pessoalmente, considero que o conteúdo do texto é muito bom, mas ao contrário do seu autor não estou nada de acordo com a forma como o transmite.
Temos opiniões opostas na forma, mas acreditamos na mesma essência!

Saúdo o colega pela coragem e faço um apelo a todos os colegas que gostariam de ver aqui os seus textos, que nos enviem as sua reflexões, ideias, criticas, louvores e pensamentos pelo e-mail que se encontra na coluna da direita.

Aqui fica o texto, de um colega camarário, intitulado "O Justo".

O JUSTO

No seguimento da esteira de "manifestos" que têm sido expostos neste Blog – não obstante entender que nem sempre é adoptada a melhor forma para transmitir determinado conteúdo – e atento à justa causa de O Arquitecto da CML – pois subjacente aos vários temas abordados encontramos um denominador comum extremamente precioso: a (in)Justiça –, decidi elaborar uma pequena resenha de uma preciosa Obra – A República – de um notável Homem – Platão, o príncipe dos Filósofos.
Ouso, assim, convidar o leitor a acompanhar-me nesta semibreve caminhada, optando por uma jornada repartida por quatro cenários:


1. NEM TUDO O QUE PARECE É


Há 2400 anos, aproximadamente, Platão referia-se à justiça como uma virtude, tomando a injustiça como um vício da alma.
Na verdade, todos sabemos que, naturalmente, a aparência pertence a um grau manifestamente inferior ao da essência. Já na altura, expunha o Filósofo:

"Se, com efeito, parece justo, terá, como tal, honras e recompensas; saber-se-á então se é pela justiça ou pelas honras e as recompensas que é assim. Parece isso, é preciso despojá-lo de tudo, excepto de justiça, e fazer dele o oposto do anterior.
Eles dirão que o justo, (...) tendo sofrido todos os males (...) saberá que não se deve querer ser justo, mas parecê-lo. (...) é aquele cujas acções estão de acordo com a verdade e que, não vivendo para as aparências, não quer parecer injusto, mas sê-lo.
Os pais recomendam aos filhos que sejam justos e assim fazem todos os que são responsáveis por almas, louvando não a justiça em si mesmo, mas a reputação que ela proporciona, a fim de que aquele que parece justo obtenha, devido a essa reputação, os cargos, as alianças e todas as outras vantagens.

2. ENTRE SER E NÃO-SER: A OPINIÃO

Mais à frente, e no seguimento de uma esplêndida apologia à nobreza da alma, o autor sumaria o tema da seguinte forma:

Há na alma humana duas partes: uma superior em qualidade e outra inferior; quando a superior comanda naturalmente a inferior, diz-se que é o homem senhor de si mesmo – o que é, sem dúvida, um elogio; mas quando, devido a uma má educação ou a uma má frequência, a parte superior, que é mais pequena, se vê dominada pela massa dos elementos que compõem a inferior, censura-se este domínio como vergonhoso e diz-se que o homem em semelhante estado é escravo de si mesmo e corrupto.
(...) se descobrirmos o que é a justiça, admitiremos que o homem justo em nada deve diferir dela, mas ser-lhe perfeitamente idêntico. (…)
Os ambiciosos, quando não podem conseguir o alto comando, comandam um terço de tribo e, quando não são honrados por pessoas de uma classe superior e responsável, contentam-se em sê-lo por pessoas de uma classe inferior e desprezível, porque são ávidas de distinções, quaisquer que sejam. (…)
Portanto, se o conhecimento incide sobre o ser e, necessariamente, a ignorância, sobre o não-ser, é preciso descobrir, para o que ocupa o meio entre o ser e o não-ser, um intermédio entre a ciência e a ignorância, pressupondo que existe algo do género.
Por isso tivemos, necessariamente, de ligar o ser à ciência e o não-ser à ignorância.
E, por conseguinte, a opinião não é nem ciência nem ignorância.
Resta-nos, portanto, descobrir, julgo eu, que coisa é essa que participa ao mesmo tempo do ser e do não-ser e que não é exactamente nem um nem outro: se a descobrirmos, chamar-lhe-emos com justeza objecto da opinião.
Mas (...) se tal coisa fosse descoberta, seria necessário dizer que ela é o objecto da opinião, e não o objecto do conhecimento.(…)
Deste modo, os que passeiam o olhar pela multidão das coisa belas, mas não apreendem o próprio belo e não podem seguir aquele que gostaria de os conduzir a essa contemplação, que vêem a multidão das coisas justas sem verem a própria justiça, e assim por diante, esses, diremos nós, opinam sobre tudo, mas não sabem nada das coisas sobre as quais opinam.

3. A CORRUPÇÃO


"E assim temos, parece-me, estabelecidas nas cidades pessoas providas de aguilhões e bem armadas, umas crivadas de dívidas, outras de infâmia, outras ainda das duas coisas ao mesmo tempo: cheias de ódio por aqueles que adquiriram os seus bens, conspiram contra eles e contra o resto dos cidadãos e desejam vivamente uma revolução.
Assim, na verdade, e apesar do que pensa certa gente, o verdadeiro tirano é um verdadeiro escravo, condenado a uma baixeza e a uma servidão extremas, e o adulador dos homens mais perversos; não podendo, de maneira nenhuma, satisfazer os seus desejos, parece desprovido de uma quantidade de coisas, e realmente pobre, aquele que sabe ver o fundo da sua alma; passa a vida num terror contínuo, sujeito a convulsões e a dores, se é verdade que a sua condição se assemelha à da cidade que governa.
Assim, aqueles que não têm a experiência da sabedoria e da virtude, que estão sempre nos festins e nos prazeres semelhantes, são transportados para a região baixa, parece-me, depois de novo para a média, e erram assim durante toda a vida; não sobem mais alto; nunca viram as verdadeiras alturas, nunca aí foram transportados, nunca foram realmente cheios do ser e não experimentaram prazer sólido e puro. À maneira dos animais, de olhos sempre voltados para baixo, de cabeça inclinada para a terra e para a mesa, pastam na pastagem gorda e unem-se; e, para terem a maior porção destes gozos, escoicinham, batem-se à cornada e a golpes de ferraduras e matam-se uns aos outros no furor do seu apetite insaciável, porque não encheram de coisas reais a parte real e estanque de si mesmos.
Talvez haja um modelo no céu para quem quiser contemplá-lo e, a partir dele, regular o governo da sua alma. Aliás, não importa que essa cidade exista ou tenha de existir um dia: é unicamente às suas leis, e de nenhuma outra, que o sábio conformará a sua conduta. "


4. APOLOGIA À ÉTICA

Observa-se que, após 2400 anos, vivemos tempos de um pavoroso obscurantismo, em que o crítico e o criticado se (con)fundem, pois a crise que se instaurou não é só política, económica e social; é, essencialmente, de ausência total de ÉTICA. Sem este sulco profundo, não há espírito que produza e dê a colher a seara de projectos felizes.

Hoje, generalizando, é assombrosa a falta de ética dos nossos governantes/dirigentes, dos mais baixos aos mais altos cargos.

Qual é pois a mais elevada Ética? Diria que é aquela que nos proporciona erguer até ao próprio Belo e sentido de Justiça e, aí, na sua essência imutável, amar o espectáculo da Verdade, na plena condição de Ser-se Humano.

O problema de fundo prende-se com o facto de se querer fazer coisas sem se Ser; o resultado (bem visível hoje na nossa sociedade) é, inexoravelmente, um número infindável de projectos de natureza corrupta, porque os seus autores, imbuídos numa cegueira egoica, participam no vício e não na Virtude.

Atentos à agitação que ultimamente nos tem minado os alicerces da tolerância e razoabilidade, conclui-se que, efectivamente, há muito que somos governados/dirigidos por criaturas desalmadas.

Fazer é uma função do corpo; Ser, é o propósito da Alma.

1 comentário:

Anónimo disse...

Parabens....!!!

Grande ´´Obra de Arte``
LJ