Estou desesperado!
A minha ex-mulher diz que eu não ligo aos filhos, que não tenho responsabilidade, nunca tenho dinheiro, não acompanho o crescimento dos filhos…que isto e mais aquilo… enfim! Um inferno.
Mas se me divorciei foi para ter liberdade. Mesmo assim, quer continuar a controlar-me a vida.
A minha namorada também reclama. O meu desempenho está a mudar já não é como dantes e … mais isto e mais aquilo, um inferno!
- Eu preciso de descansar rapariga! Dá-me uma folga!
Na Câmara a minha chefe também me dá cabo do juízo.
- Você não atingiu os objectivos e que a nota e o SIADAP e as fichas e mais isto e mais aquilo…Um desatino!
Mas é agora, aos 45 anos, que tenho de ouvir isto?
Como não sou machista, não vou culpar as mulheres, que me rodeiam, deste inferno em que estou metido. Vou fazer uma reflexão profunda e dar a volta por cima.
Ao longo dos meus vinte anos de arquitecto da Câmara e mais dois a dar aulas de História no ensino oficial não me posso deixar abater.
Como me ensinaram num curso de formação sobre “ Resolução de Problemas” os problemas só existem se tiverem solução, caso não tenham, deixam de ser problema.
Da guerra com a ex mulher não me posso livrar, ela é a mãe dos meus filhos e como tal se não tem solução deixa de ser problema.
Está riscado da minha cabeça, já não penso nele. Acabou!
Quanto à namorada vou ter que mudar, vou procurar uma que seja menos exigente. Vou colocar um anúncio no Correio da Manhã “Procura-se acompanhante, não muito exigente…etc e tal”. E quando a encontrar vai deixar também de ser problema.
Resta-me resolver o problema da Câmara e esse é um osso duro de roer.
Sempre ensinei aos meus alunos de que: História é a interpretação dos factos passados à luz do presente para melhor construir o futuro.
Mas como explicar estas coisas aos chefes sem os ofender? Isto é uma verdade de La Palice e lições quem as dá são eles! Toda a gente sabe isso.
Não sou saudosista, nem por sombras ligado ao antigo regime, mas gosto de ouvir os conselhos dos mais velhos.
No passado, eram os funcionários que compunham esta casa e a hierarquia montada que se mantinha por longos anos e o conhecimento passava de geração para geração, bem sedimentado.
Os mais velhos foram empurrados para a reforma levando com eles o conhecimento. Descontentes, por serem empurrados, não passaram o conhecimento para os que ficaram. E esta informação não se encontra com as pesquisas no Google.
É preciso lamber arquivos e não ser alérgico ao passado!
Até com os erros se aprende!
Hoje, nem os pontos cardeais se respeitam O Norte também fica no Sul e o Ocidente fica no Oriente e vice-versa.
E eu? Tenho que me adaptar!
Como se explica a um munícipe, que a sua moradia pertence à Zona Norte?
- Está enganado arquitecto, a minha casa localiza-se na área Sul da cidade!
Ultimamente mudam os sistemas informáticos com as mudanças politicas da Câmara. E eu? Tenho que me adaptar!
- Mudam os chefes ainda com mais frequência que os partidos. E eu? Tenho que me adaptar!
Há chefes que chegam de pára-quedas e não se adaptam, mas eu? Tenho que me adaptar!
Nova legislação entra em vigor, viram tudo de pernas para o ar. E eu? Tenho que me adaptar!
Entra em vigor o RMUEL e atropela toda a legislação. E eu? Tenho que me adaptar!
De vez em quando, rebentam bombas nos serviços, e ai Jesus! que alguém vai levar com os estilhaços! E eu? Tenho que me adaptar!
Agora as preocupações são os formulários do SIADAP. É aprender a dizer que se trabalha muito não se fazendo nada, são as novas preocupações, sem história. E eu? Tenho que me adaptar!
Vou ficar sentado à espera que um cérebro deste país se lembre que o futuro se constrói à custa do passado.
Já ouvi dizer que o MAGALHÃES é um computador fácil de trabalhar. Até os miúdos aprendem. Vou sugerir ao Presidente que distribua computadores destes pelos Serviços da Câmara assim, tudo vai ser mais fácil e simplificam-me a vida.
Por enquanto vou culpar o sistema que me deixa inadaptado para a ex mulher, para a namorada e para o trabalho.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
2 comentários:
Parabéns!
Está impecável.
A nossa vida é feita de adaptações. É verdade.
Gostei especialmente daquela em que afirmas que "temos que aprender a dizer que se trabalha muito não se fazendo nada."
Meu caro Galego estamos no tempo das "Novas Oportunidades" e temos que nos adaptar.
Parabéns.
Até porque se não se adaptar, caro Galego, adaptam-no a si, e depois deixa de ser um problema...
Enviar um comentário