terça-feira, 17 de março de 2009

Histórias de Arquitectos

Era meio da manhã e o Sol já ia alto.
No centro da Capital do Reino o velho Arquitecto descia a rua com passo seguro e figura imponente apesar da idade avançada.
A calçada brilhava sob o Sol primaveril e os passarinhos cantavam nas copas das árvores.
O velho Arquitecto era figura prestigiada e respeitada. Tinha muitas obras na Capital e há largos anos atrás tinha chegado mesmo ao topo, com edifícios marcantes para a Arquitectura do Reino. Ele tinha realizado projectos de grande significado e importância para o Estado, para a Igreja e para particulares.
O seu nome era Nuno T. Pereira.
Nessa manhã dirigia-se ao café da Praça para tomar a sua bica quando, ao entrar, encontrou o dono do café, um velhote de cabelo todo branco, que devido à idade avançada já raramente aparecia por ali.
- Como está Sr. Filipe? – perguntou o Arquitecto Nuno T. Pereira.
- Cá vamos andando...Sr. Arquitecto... enquanto não chega a carta de chamada, vamos vivendo. – retorquiu educadamente o velho comerciante.
O Arquitecto, sem grandes motivos de conversa, lembrou-se que o idoso tinha um filho também Arquitecto e perguntou-lhe: - Então, Sr. Filipe o que é feito daquele seu filho Arquitecto?
Respondeu o idoso: - O meu filho lá está, a trabalhar na Câmara.
Ah Sim? E o que é que ele faz na Câmara? – Perguntou Nuno T. Pereira.
Ele está a trabalhar no serviço em que fazem a apreciação dos projectos. – respondeu o idoso.
Nesse momento, o rosto do velho Arquitecto rejuvenesceu, os seus olhos ganharam um novo brilho, a sua figura tornou-se mais hirta e a resposta brusca:
- Não me diga?... então ele faz parte daquela cambada de filhos da puta, incompetentes, que só sabem estragar a vida a quem trabalha?
O Sr. Filipe, ficou sem saber o que dizer. Comerciante há mais de sessenta anos, astuto e ainda com um ligeiro brilho no olhar, pensou: “Se este chama filho da puta ao meu filho o que serei eu na cabeça dele?”
O Arquitecto vendo o idoso meio atrapalhado e sem saber o que dizer, deu-lhe uma palmadinha nas costas e disse: - Vá lá Sr. Filipe, não fique preocupado com o seu filho, esses cabrões estão todos cheios de massa!
E, com estas palavras saiu, deixando cinquenta cêntimos em cima do balcão.
O idoso pensou: “Coitado, já não está bom da cabeça. Se ele tivesse razão o meu filho estava cheio de massa.”
FIM

Desculpem, mas esqueci-me de contar que o Arquitecto durante a conversa bebeu a sua bica e que os passarinhos continuaram a cantar na copa das árvores do Jardim.

Os nomes e factos descritos, obviamente, são fictícios e qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência.

A moral da história fica para os vossos comentários...

2 comentários:

Anónimo disse...

Penso que o blog já deveria ter sido criado já algum tempo, mas ainda não tinha aparecido ninguém com o espírito necessário.

Parabéns pelo seu olhar simples, humilde e muito expressivo.

Tobias disse...

Eu por acaso tenho uma vastissima experiência na lide. Tudo agora está bem montadinho. Quem está na função pública faz parte da engrenagem de branquear a coisa politica com transparência. Tudo bem claro, pois já não há nada para esconder.
O pejo a vergonha, são agora sentimentos de quem não está integrado, pois agora tudo está previsto.
Cada qual tem o seu papel específico.
É certo que nem tudo bate certo, porque quem faz um papel tão restrito não se apercebe do global.
E haverá também umas contradiçõezinhas, mas é para isso que estamos cá.
Estávamos a falar de quê?
Julgo que eu queria falar de alguma coisa importante!
Há...Isto está um espectáculo! Voçês não acham?