quarta-feira, 15 de abril de 2009

Os sapatos sujos de Mia Couto (3)

“O preconceito de que quem critica é um inimigo”

Este é um preconceito profundamente enraizado na sociedade portuguesa contemporânea. Com origem concerteza nos anos de ditadura, antes de 74, em que quem criticava era punido, este preconceito prolonga-se para a nossa sociedade actual principalmente no interior da função pública.
A necessidade evidente do respeito, obediência e fidelidade à hierarquia é rapidamente transformada na completa ausência do poder e direito à critica. Os nossos serviços públicos estão transformados (ou sempre foram) espaços mortos, parados no tempo, devido à total ausência de poder critico por parte de quem neles desenvolve a sua actividade profissional.

Enquanto gastamos horas e horas a ensinar aos nossos filhos a necessidade deles desenvolverem o seu “espírito critico” como factor essencial de crescimento e desenvolvimento, oferecemos-lhes depois uma sociedade em que a critica não tem espaço nem lugar. Talvez seja este um dos motivos de sermos o País mais atrasado a todos os níveis da Europa comunitária.

Todos sabemos como a critica é vista nos nossos Serviços: Se um subordinado critica uma chefia ou um serviço não é porque algo esteja mal (nem sequer se pensa no conteúdo da critica feita). Se isso acontece é porque “ele anda à procura de alguma coisa” – cá para mim também quer é um tacho ou um lugar e com esta atitude ainda leva é uns patins!;
Se uma chefia faz uma critica a um funcionário não é por que tenha qualquer razão (nem sequer se analisa o conteúdo da critica) é simplesmente porque não gosta dele, está-lhe a mostrar um cartão amarelo e se não se põe a pau ainda vai parar aos disponíveis!

Este é o ambiente actual. A critica não é vista de forma positiva e como ponto de partida para uma mudança de atitude no sentido da melhoria do desempenho individual ou colectivo.

A sério, que acredito (eu sou um crente), que quem nos critica não é o nosso inimigo. Na maioria das vezes é o nosso melhor amigo que teve a coragem e a capacidade de nos criticar para nós melhorarmos o nosso desempenho e crescermos.

Tu que és chefia e tu que és funcionário ganha coragem e descalça este sapato que não te deixa crescer.

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