quinta-feira, 19 de maio de 2011

Palavras de uma Deputada da Assembleia Municipal de Lisboa

“Boa tarde, Antes de opinar sobre a sua informação escrita, Sr Presidente, permita-me fazer uma singela observação. Folgo em vê-lo bem-disposto, com certeza ainda serão resquícios da sua satisfação pelo jogo Benfica-Sporting, onde o seu clube saiu vencedor. Como sportinguista, devo dizer que vejo isso como a lei da compensação: o Benfica ganha jogos mas, em compensação, o Sporting é capaz de ganhar uns milhões da Câmara… É um pouco o que sinto em relação à sua informação escrita: provoca-me olheiras. Mas, em compensação, delicio-me ao lê-la. Principalmente porque aprendo algumas lições. Uma delas, que ser-me-á muito útil aquando, na minha vida profissional, corrigir trabalhos dos alunos, é perceber como, sem se fazer absolutamente nada, dá-se a impressão que se faz alguma coisa. Esta informação escrita diz respeito ao período entre 15 de Novembro e 31 de Janeiro, ou seja, a altura natalícia. Pelo volume de trabalho aqui adivinhado pergunto-me, para quê Pai Natal e a rena Rodolfo, quando temos o Sr Presidente e as bicicletas do Sr Vereador Sá Fernandes?”


O fetiche republicano


“Por fim, como era óbvio e expectável, a parte mais preciosa de toda a informação escrita: o ponto 7, relativo ao “Concurso de concepção para a elaboração do projecto de um monumento comemorativo do Centenário da Implantação da República Portuguesa”. Para além de não saberem fazer contas – afinal, “Centenário” diz respeito a 100 anos, e não a 101 – estão muito generosos e não imaginam o que fazer ao dinheiro. Pelos vistos, a Sr.a Vereadora das Finanças anda enganada, e a Câmara não tem problemas financeiros nenhuns! Sugiro que, invés de nos espetarem com mais poluição visual sem qualquer originalidade – não fossem ter imitado os franceses para criarem a imagem da República Portuguesa (cá entre nós, deve ser um fetiche republicano qualquer, mulheres com peito desnudo e barretes na cabeça) – dizia, sugiro que apliquem esse montante na recuperação e limpeza das várias estátuas da cidade. Isso sim, seria honrar a cultura e a arte urbanas. E as pessoas de bom-gosto agradeceriam.”


Sobre a reestruturação e a estátua de António Costa


“É absurdo fazer-se uma reestruturação sem um plano pormenorizado. Mais um pouco, e perguntar-nos-íamos para quê serve a vereação da Cultura – apenas para se gastar dinheiro, porque não fazem nada.


Não está claro nem foi feita uma análise de custo/benefício ou de eficácia económica desta reestruturação. Só dizem que se poupam 500 mil euros, mas isso nem sequer ficou reflectido no orçamento.


Por este andar, qualquer dia, ainda corremos o risco de ver passar na Assembleia uma proposta para deitar abaixo o pelourinho na Praça do Município para erguerem, no seu lugar, por exemplo, uma estátua ao Presidente da Câmara. Parece que estou a ver: perfil semelhante a D. João VI, calções verdes, colete amarelo, libré vermelha, para representar a bandeira da República. O animal – que não pode ser o leão, esse já está na estátua do Marquês – só pode ser a águia – do Benfica, com as asas bem abertas, para não deixar entrar nenhum frango na Câmara Municipal. Nas mãos, uma filactéria: com os dizeres Liberdade, Igualdade, Fraternidade? Não, esses já não valem nada. Podia ser Vim, Vi e Venci – mas também não, o político que disse isso teve um fim muito triste. Só pode ser QUERO, POSSO E MANDO. E assim, do seu esplendor resplandecente, a estátua do Presidente da Câmara vê os edifícios e a Cultura a serem destruídos, como acontece com a igreja de S. Julião e todo esse quarteirão, mesmo ao lado do edifício da Câmara, que tem parte da muralha do tempo de D. Dinis e que não está a ser tratada, com a agravante de estarem a esburacar a fachada pombalina, e a destruírem parte dela, ao contrário do que afirmavam ser uma prioridade do Plano Pormenor da Baixa!”


Manuel Salgado, o Plano da Matinha, e o atelier “ Risco”


“Já ouvimos falar aqui muitas vezes em palavras muito fortes, que têm um grande peso e um grande significado:


Exigência, Rigor, Transparência.


Gostaríamos que as aplicassem, de facto. São muitas as dúvidas que este plano nos suscita.


Infelizmente, o Sr Vereador Manuel Salgado não está presente, pois queríamos que ele explicasse porque é que a empresa “Risco”, que pertence ao filho dele, o Sr. Arquitecto Tomás Salgado, continua a ter, passados 3 anos, responsabilidades neste complexo construtivo, que é um gueto de alto nível.


Parece-nos pouco transparente. Sr Presidente da Câmara, agradecemos a sua resposta e o seu comentário.


Por falar em “Risco” – é capaz de ser um grande risco aprovar este plano que vai contra o próprio PDM…


Outra pergunta: e um estudo ou plano sobre o impacto a nível de arquitectura paisagística, foi feito?


Quanto a falar no Parque Expo, não nos parece que seja uma comparação feliz. É que, para além de se assemelhar, por vezes, a um Parque-Fantasma, alguns prédios estão a cair aos pedaços e a meter água. Se calhar não é um bom prenúncio….


Defende-se aqui a não-necessidade de se fazer um plano de “urbanização” para se “urbanizar” a cidade. Achamos fantástica esta lógica! Toca a construir prédios que brotam da terra, como cogumelos ou, quiçá, trufas.


A grande trufa é, sem dúvida, a nova Sé-Catedral. A avaliar pelo lindo estado de sujidade e degradação em que está a Sé-Catedral já existente, que data do século XII, das duas, uma: ou já podemos adivinhar o estado em que irá ficar a próxima, ou então o primor com que a Câmara trata e tratará o seu Património deixa muito a desejar.


Neste projecto louvamos apenas a reactivação da doca do Braço de Prata, que trará velas ao Tejo – promessas da Carta Desportiva que velas, até agora, nem vê-las. Folgamos saber.


Também folgamos em saber que a CML segue o que dizem os pareceres jurídicos. Se calhar só segue quando lhe convém pois que, no caso escandaloso do Hotel Internacional na Rua Augusta, durante anos com pareceres negativos da Câmara, quando apeteceu ao Sr Presidente que se construísse, construiu-se, mesmo contra os ditos pareceres.


Ainda bem que, agora, os serviços da Câmara são considerados e estão a servir para alguma coisa…


Finalizo com um pequeno desabafo:


Felizmente que o Sr Marquês de Pombal já não está entre nós. É que, se lhe dissessem que se iria construir em Lisboa sem um plano de urbanização, muito provavelmente mandaria o Sr Arquitecto Vereador Manuel Salgado para um beco, ali, para os lados de Belém, que tem exactamente o seu nome.


Para saber mais visite a Srª Deputada aqui.

Sem comentários: