A Câmara Municipal, a Ordem dos Arquitectos e o Arquitecto camarário formam um estranho triângulo.
Obrigados a viver juntos e dependentes uns dos outros mantêm entre eles uma relação de mentira e falsidade evidente em que o Arquitecto camarário é sem dúvida o lado mais pequeno, insignificante, humilhado, maltratado e mal visto.
Apesar do Arquitecto camarário ser uma peça fundamental na organização camarária, é também ele o alvo ideal para branquear ou justificar tudo o que se faz de errado na Autarquia. Quanto menor fôr a credibilidade do Arquitecto camarário, maior será a protecção do Poder político. O Arquitecto camarário é o elemento ideal para justificar toda a corrupção, erros, incúria, falta de visão e estratégia…serve para tudo. Para esta realidade ser credível basta somente e de forma pontual, atirar para a opinião pública alguns “casos” que alimentem a ideia já formada, há décadas, de que todo o Arquitecto camarário é corrupto, preguiçoso e incompetente. Aliado a este factor, o poder político autárquico tem toda a conveniência que este seu colaborador seja o mais frágil possível em todos os aspectos. Convém que seja dependente economicamente, que sinta instabilidade e insegurança no seu posto de trabalho e que não tenha muita experiência profissional e de vida. Estas três realidades juntas na mesma pessoa fazem dela o Arquitecto camarário ideal para o poder político autárquico.
Por outro lado, o Arquitecto camarário é uma peça fundamental na organização económica da Ordem dos Arquitectos. As Autarquias Locais são a maior entidade empregadora de Arquitectos a nível nacional! A Ordem despreza estes Arquitectos (camarários), pois afinal de contas, são eles que fiscalizam o seu trabalho, colocam mais ou menos entraves e no final viabilizam ou não os “excelentes” projectos que os elementos da “corporação” realizam. Conheço algumas organizações nacionais e internacionais e em nenhuma delas, os elementos fiscalizadores e de controlo são bem vistos pelos colegas de profissão. Na Arquitectura a realidade é a mesma. A Ordem dos Arquitectos só precisa dos Arquitectos camarários para pagarem as quotas e assegurarem um pouco mais a estabilidade económica da organização. Tirando esse interesse, a Ordem dos Arquitectos despreza profundamente o Arquitecto camarário. Não é mera coincidência o facto da Ordem e os seus elementos estarem, há já algum tempo, e de forma muito subtil, a trabalhar no sentido de virem a assumir, no futuro, um papel de “entidade certificadora” de projectos de Arquitectura. Este facto, só por si, demonstra de forma clara o desprezo que têm pelo “Arquitecto camarário” e a necessidade de protagonismo e poder que desejam assumir perante a corporação.
Infelizmente, vejo muitos colegas a caírem no logro e a acreditarem que esse caminho é melhor.
Eu não acredito! Eu luto e defendo a necessidade urgente de alterar a situação existente dignificando a profissão, valorizando-a em termos técnicos e económicos e tornando-a o mais independente possível do Poder político, económico e também da corporação chamada “Ordem dos Arquitectos”.
Qual a vossa opinião?
2 comentários:
Se o número de comentários a este tema é quase nulo, é porque de facto a classe acha que o assunto não tem muita importância...
Eu diria que andam na lua...
Das duas uma:
- Qualquer dia a Ordem passa a ter a capacidade de verificação dos projectos, e tem de se munir de um corpo técnico adequado à gigantesca tarefa. Tudo bem, passamos todos para a Ordem, até pode ser que o ordenado seja melhor!
- A Ordem limita-se a passar certificação aos projectos (desde que o associado tenha as quotas em dia...), e mediante taxa a cobrar (claro!). Aí, estamos todos no desemprego...
É claro que das hipóteses que acima referi, a primeira é fantasiosa, mas a segunda nem por isso.
Julgo que, por mais certificação que haja, nunca deveria ser retirado às autarquias o poder da decisão final sobre qualquer intervenção no seu território, nem a capacidade da fiscalização das obras licenciadas.
E portanto, caro Arquitecto, é evidente que concordo inteiramente com o seu texto, principalmente no último parágrafo.
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