quinta-feira, 4 de junho de 2009

AS PLANTAS DA CIDADE

O dia da entrevista tinha chegado, tinha-lhe sido proposto um contrato como Engenheira Agrónoma na Câmara, depois de longa ausência no estrangeiro. Iria substituir um colega que fora transferido, devido ao mau relacionamento com o chefe.

O chefe um homenzarrão de poucas falas, austero no trato, voz grossa e arrastada escondida por detrás das sobrancelhas espessas. Com apenas a 4ªclasse, conseguiu ser nomeado chefe de Repartição. Naquele tempo era obra!

De manhã percorria os locais da cidade, de tarde no seu gabinete emitia as ordens!
Chamava os seus subordinados e pedia relatórios daquilo que ele já sabia.

O Engenheiro pediu transferência.
- Não quero receber ordens de um analfabeto. - Dizia o Engenheiro com desdém - Eu. Engenheiro, formado no Técnico, não posso receber ordens de um carreirista mal formado!
Ferido no seu orgulho bateu com a porta e foi-se embora.

- Senhora Engenheira é um prazer recebe-la neste gabinete! A sua função vai ser recuperar as plantas da cidade. Elas estão muito mal tratadas e precisam de ser renovadas.
- Plenamente de acordo Sr. Doutor.
- Eu não sou Doutor!
– Peço desculpa mas…
– Não tem importância, mas como ia dizendo, a cidade merece ter plantas novas. E lá continuou a conversa até se acertar o horário, o gabinete de trabalho e todos os restantes pormenores.

Ela tentou explicar a diferença das Engenharias, Agrónoma, Civil, Electrotécnica, Hidráulica, etc.

- Para mim, Engenheiro é Engenheiro! está tudo dentro do mesmo saco! Respondeu com rudeza, dando um murro na mesa, pondo ponto final na conversa.

Lá foi a nossa Engenheira Agrónoma a caminho de casa, com contrato assinado, contando as árvores em mau estado que encontrou pelo caminho.

-Isto vai ser um trabalho muito interessante… Este jacarandá vou substitui-lo…Olha esta "morus-alba" coitada não pegou, e aquele "Acer pseudoplatanus" tem que ser renovado. E tomava nota num dossier branco, que apanhou no gabinete, das árvores que encontrou em mau estado, a caminho de casa.

No dia seguinte apresentou-se ao trabalho, conheceu os colaboradores desenhadores e fiscais que iriam ajudar na árdua tarefa de substituir as plantas da cidade. Contrariamente ao habitual, o chefe foi trabalhar naquela manhã, e mandou chamar a novata da Engenheira ao gabinete.

- Hoje, quero apresentar-lhe as plantas da cidade…
- Mas é agora?
- Claro! Queira-me acompanhar!

Ela passou pelo seu gabinete e vestiu o casaco, pegou na mala e lá foi no seu passo miudinho atrás do homenzarrão.

De repente, entrou numa sala, dirigiu-se a um armário metálico com cerca de 1,5m de largura por 1m de profundidade com a altura de 2m, entre outros armários, e abriu uma das gavetas com 5 cm de altura.

- Aqui estão as plantas da cidade de que lhe falei!

Mas senhor doutor eu pensava… ( A gaveta fechou-se com estrondo) e o chefe interrompeu.

- Eu não sou doutor! Não me volte a chamar doutor! Ouviu?

Ela tremia que nem varas verdes e lá engoliu em seco aquele raspanete…as plantas, que sendo plantas, não eram as plantas que ela sonhava. Se a sala tivesse um buraco ter-se-ia enfiado por ele abaixo.

E agora?... Que fazer?... E lá foi ela à luta. Aprender a mexer naquele tipo de plantas bem diferentes das suas PLANTAS DA CIDADE.

A Engenheira passou toda a vida agarrada ao ENGANO! Hoje essas plantas já não existem! Foram rasgadas e metidas dentro dos computadores.

A língua Portuguesa é mesmo traiçoeira!

É PRECISO ABRIR OS OLHOS E ESTAR ATENTO!
NÃO NOS PODEMOS DEIXAR LEVAR PELOS ENGANOS .
ESSES ENGANOS PODEM PRENDER-NOS PARA O RESTO DA VIDA .

1 comentário:

Anónimo disse...

O Costinha anda a enganar todos os técnicos da Câmara, com aquele ar de santinho.
É preciso acordar do engodo em que nos meteu