quinta-feira, 18 de junho de 2009

A GRANDE ENTREVISTA (2ª Parte)


Jornalista: E o que acontecerá a todos aqueles que não se adaptarem à "nova cultura"?

Presidente: Bom... esses terão que ser eliminados. Mas eu estou convencido que a grande maioria vai compreender e aceitar. Esta é uma característica do povo português: é um pouco avesso à mudança... de início reclama, refila... mas passados uns meses tudo volta à "normalidade". Além disso já se começa a notar a diferença.

J.: Sr. Presidente, duas questões: primeiro, com as baixas da ocupação, com aqueles que saem, com os que fogem e que são eliminados... como vai ter funcionários competentes para dar resposta ao trabalho crescente que a nova legislação implica?
Segunda questão: não entendo onde é que o senhor já vê diferença nos Serviços após seis meses da ocupação.

P.: Em relação à sua primeira questão tenho que lhe dizer que há já muito tempo que pensámos nisso e portanto já temos completamente preparado um batalhão de recibos verdes, pronto a entrar para o activo da câmara.
Neste momento temos em preparação, no âmbito da nossa Juventude, um segundo batalhão de recibos verdes, que entrará em funções caso haja necessidade.
Em relação à segunda questão, estou em condições de lhe assegurar que já há mudanças significativas nos Serviços. Já se nota em muitas divisões, um verdadeiro ambiente de trabalho… funcionários concentrados nas suas funções com head-phones nos ouvidos, ignorando completamente o ambiente exterior…

J.: Desculpe, Sr. Presidente, … não percebi. O Sr. considera que as coisas mudaram, e que os serviços melhoraram, somente pelo facto dos funcionários se isolarem?

P.: Não… Não! Nada disso. Aquilo que lhe estou a dizer é que já se notam diferenças de comportamento nos funcionários que vão no sentido da "nova cultura" que queremos implementar… e esta mudança deve-se essencialmente à acção das chefias intermédias que nós colocámos de forma estratégica. Note que todas estas chefias foram formadas por uma das nossas mais altas patentes, ou seja, a Eng.ª Isabel que comandou a nossa primeira invasão.

J.: Senhor Presidente, falemos de coisas mais concretas; existem inúmeras queixas dos funcionários do Edifício do Campo Grande em relação ao funcionamento e organização do próprio edifício. O que é que nos pode dizer sobre isso?

P.: Desculpe, mas disse-me que íamos falar de coisas mais concretas e de seguida não especificou coisa alguma... afinal, o senhor está a falar de quê?

J.: Peço desculpa Sr. Presidente, mas estou a falar de elevadores que se encontram desligados há meses... de esperas de 15 minutos por um elevador... da falta de lugares de estacionamento no interior do edifício obrigando os funcionários a pagarem à EMEL... do parque de estacionamento estar praticamente todo ocupado com viaturas atribuídas às chefias e aos assessores...

P.: Em relação a esse tipo de questões, como deve calcular, não são coisas que eu, como Presidente, tenha que resolver ou tenha mesmo conhecimento. Existe um Departamento para tratar desse tipo de assuntos.
Contudo, e devido ao facto do gabinete do meu camarada e amigo Manél se localizar na zona mais afectada por esse tipo de problemas já tive conhecimento do que se passa e já estamos a tomar as medidas adequadas para os resolver.

J.: E que medidas são essas?

P.: Bom,... Estamos a pensar implementar um modelo de acesso condicionado aos elevadores. Desta forma a generalidade dos funcionários utilizará o acesso pelas escadas o que lhes proporcionará uma boa oportunidade de realização de exercício e consequentemente uma melhoria da sua condição física libertando assim os elevadores para as chefias, pessoas de mobilidade condicionada e visitantes. Com esta solução todos ficam a ganhar: os funcionários fazem exercício físico melhorando a sua condição física e as chefias ganham algum tempo precioso para o desenvolvimento das suas inúmeras tarefas.

J.: E sobre a ocupação quase total do estacionamento por viaturas atribuídas a chefias e assessores em detrimento dos lugares para os funcionários... o que pensa fazer?

P.: Em relação a isso já tomei uma primeira medida, ou seja, nomeei uma comissão independente para investigar todos os funcionários que se deslocam em viatura própria para o Serviço… isso não é normal… tendo em conta os ordenados que estes funcionários auferem como é que é possível que se desloquem em viatura própria em vez de virem de transporte público ou mesmo de bicicleta? O Senhor já viu ao preço que está a gasolina? Como? Como é possível que tantos funcionários tenham dinheiro para se deslocarem diariamente em automóvel próprio? Tenho a certeza de que só é possível devido à corrupção maciça que falávamos no inicio.
Nós consideramos que é muito saudável o exercício físico, o Joging matinal, vamos incentivar todos os funcionários a que o façam diariamente a caminho do seu emprego… a pé, de bicicleta, sem poluição… todos ficamos a ganhar.

J.: Mas, Senhor Presidente, cada vez há mais chefias e assessores com viaturas camarárias e gasolina paga pelo erário público para uso privado. Todos os serviços estão concentrados neste edifício e teoricamente estas pessoas não têm deslocações de serviço, e se as têm, ocasionalmente, existem carros de serviço e motoristas para essas deslocações. O que me diz sobre isto?
(Continua)

Sem comentários: