terça-feira, 16 de junho de 2009

O meu Arraial


Era véspera de Santo António. Resolvi fechar as portas às marchas da Avenida e ir até Alfama cheirar a tradição!
Bem... a Alfama é favor! Quando cheguei ao Largo da Sé rodeado de um cardume de gente aos empurrões… arrepiei caminho!

Barracas vermelhas, encostadas aos cantos, secavam os barris de cerveja em cima dos forasteiros.
De vez em quando, o cheiro a sardinha assada, entrava-me nas narinas!

Mas o meu braço era curto!

Lá fui pisando copos de plástico ao som do Quim Barreiros…de um Conjunto Galego…D’avince…Musica Rasca…Musica Brasileira… Enfim, uma miscelânea de culturas, mas Fado não!

Corpos de mulheres lindas, arrastando bêbados dançavam e tropeçavam levando-me a entrar no ritmo e na bagunçada!
Grupos de estudantes com as namoradinhas bem presas à cintura farejavam novidade! E bebiam cerveja à molhada! Tradição… onde pára?

O suor de tal esforço, entranhou-se na roupa e eu furei, furei, furei até chegar ao portão do Bairro do Castelo. Olhei para trás e não me lembro de ter visto uma única banca onde se vendesse um copo de vinho tinto!
Apenas o cheiro a sardinha assada tinha entrado nas narinas, muito vagamente! O meu braço continuava curto!

Quatro polícias por detrás de barreiras metálicas empurravam quem se aproximasse. Eram eles os guardiões do Bairro e do Castelo. E eu a lembrar-me que já dancei no Largo da Igreja junto ás muralhas! Agora está interdita a entrada no Bairro do Castelo!

Frustração! Eu queria assaltar o Castelo e foi-me barrada a passagem!
Aqui é a aldeia do Castelo, só cá moram velhos e estão todos a dormir. Chiu!...Não querem ser acordados. Tradição… onde pára?

E lá fiz a viagem de regresso!

Mais do mesmo, agora na descida até o Santo António ajudou! Quando dei por mim já estava encostado a uma barraquinha vermelha.

-Uma imperial! E Já agora uma sardinha no pão!

Ao som do Quim Barreiros! Tradição… onde pára?

Aqui entre a Sé e Alfama, lá me dei por vencido!

Tinto nem vê-lo! Fado nem cheirá-lo!

Com sardinha a 2€ a Tradição não pode parar por aqui!
Mas ainda sobraram uns cobres para comprar uns manjericos com quadras

Na Câmara és arquitecto
E furas a tradição,
O teu futuro ficou incerto
Com o SIADAP na mão

Bebes cerveja no copo
Comes sardinha no pão
É mais difícil chegar ao topo
Que cair dentro do alçapão

Na Câmara é sem exclusividade
Na Ordem o pagamento é fatal
È melhor fugir, mudar de cidade,
Antes que te ponham a pão sem sal!

1 comentário:

Numerobis disse...

Boa, Galego! Bela rima!
Também por lá andei, à procura de Alfamix e Mourarix, mas nem vê-los...
A tradição já não é o que era!