terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Porque não suspendemos a inscrição na Ordem?


Há uns dias atrás um “João” comentava um post deste Blog dizendo:

“Não trabalho em nenhuma câmara, estou desempregado e sem qualquer esperança no futuro. Cheguei à conclusão que ser "arquitecto" é talvez a mais desprestigiada profissão dita "superior" neste país. Digo, com tristeza, que tenho vergonha de ser arquitecto.”

Compreendo-o e dou-lhe alguma razão! Mas, não perca a esperança...

Mais à frente, acrescentava:

“E a minha questão é, portanto, a seguinte: porque razão vocês, arquitectos camarários, pagam as quotas? É obrigatório (segundo o estatuto da ordem) eu sei, mas o que lhes acontece se suspenderem a vossa inscrição na OA? Despedidos não serão de certeza!! Porque não suspendem as vossa inscrições?”

A pergunta é interessante e por isso a transcrevi e vou tentar dar uma resposta possível.

O “João” afirma que “despedidos não serão de certeza!!” Será? Porque tem tanta certeza?

Na verdade, ficaria surpreendido, se soubesse que essa questão do despedimento por esse motivo já foi alvo de discussão em reuniões dos mais altos dirigentes desta Câmara Municipal?

Pois não se surpreenda porque já foi colocada essa hipótese sobre a mesa!

Mas, por outro lado, a questão não é tanto de ser-se despedido ou não. A questão tem mais a ver com o ser-se honesto e vertical. É uma questão de princípio.

Se os Arquitectos camarários suspendessem a sua inscrição na Ordem (e alguns já o fizeram) estavam a entrar na ilegalidade de forma consciente. E, sendo assim, em termos legais, poderiam ser punidos por estarem a praticar actos de Arquitectura de forma ilegal.

Não é isso que queremos ser.

Aquilo que queremos, e se for caso disso, iremos exigir, é o direito que temos a exercer a nossa profissão de forma honesta, livre e em igualdade com todos os outros licenciados da função pública.

Os actuais governantes, os interesses corporativos e a legislação criada, estão a empurrar todos os Arquitectos camarários para a ilegalidade... mas, estou convicto, que durante este ano de 2011 vamos conseguir fazer valer as nossas razões e alterar esta situação de profunda injustiça e de evidente incumprimento da Constituição deste País.

Basta ter ouvido o que o Sr. Presidente da República afirmou, há bem pouco tempo, a propósito da questão das compensações dos funcionários dos Açores, para perceber que temos toda a razão naquilo que estamos a exigir ao poder actual.

Não vamos entrar na ilegalidade!!! Antes pelo contrário... vamos exigir, isso sim, que quem nos governa volte rapidamente à legalidade cumprindo e respeitando a Constituição Portuguesa.

5 comentários:

joao disse...

"já foi colocada essa hipótese sobre a mesa"...
Pelo amor de Deus, quando é que alguma vez algum funcionario publico é despedido??? Nem que mate o chefe e os colegas, o metem na rua... Sejamos sérios, senhor "arquitecto da cml". O senhor, por muito que tenha razoes de queixa (e tera, certamente), é um privilegiado. Pode ser posto na prateleira, pode ser ostracizado, perseguido, ignorado, podem-lhe fazer trinta por uma linha, mas nunca lhe irao tirar o emprego.
Dá Deus nozes a quem não tem dentes... se soubesse a sorte que tem...

"O Arquitecto" disse...

Caro João, é capaz de ter razão e eu ser um “privilegiado” que como funcionário público dificilmente tirariam o emprego pelo simples facto de não estar inscrito na Ordem dos Arquitectos. Mas, aquilo que escrevi, foi diferente... na verdade já houve reuniões a nível superior na Câmara de Lisboa onde a questão foi colocada exactamente nesses termos! Que eu saiba, nunca o tentaram fazer, mas lá que colocaram a questão nesses termos e com essa possibilidade asseguro-lhe que é verdade!

A propósito das nozes, dos dentes e da sorte, tenho uma boa novidade para si: “Está aberto um concurso para Arquitecto na Câmara Municipal de Lisboa!” Amanhã por volta da uma da tarde irei colocar aqui um post com todas as informações... vai constatar que só será aceite se for membro efectivo da Ordem dos Arquitectos.

Obrigado pela sua simpática colaboração neste Blog.

joao disse...

Caro colega, ja concorri a suficientes concursos de camaras (inclusive Lisboa) para saber que nao vale a pena. E impossivel alguem "de fora" entrar. Sao concursos viciados, como muito bem sabe. Ou vai-me dizer que alguem entra sem grande cunha? Ja agora, como e que o colega arranjou esse emprego? Como e que todos os seus colegas entraram na cml?

Fica-lhe muito mal estar-me a sugerir concorrer a um concurso que sabe perfeitamente tratar-se de uma fraude.

"O Arquitecto" disse...

Caro João

Compreendo-o perfeitamente e acho que tem alguma razão. Veja o post que acabei de colocar a propósito da abertura deste concurso.

Se tiver paciência e tempo leia o texto publicado por mim, há algum tempo, intitulado “A Fábrica de medíocres”. (com o mecanismo de busca que está na coluna da direita encontra-o rapidamente)

Em relação à minha pessoa pode estar crente que sou uma excepção à regra (todos lhe dirão o mesmo). Quando entrei para a CML – nos anos oitenta – não conhecia uma única pessoa que trabalhasse na Câmara de Lisboa. No meu agregado familiar e amigos não havia um único funcionário público ou camarário nem qualquer pessoa ligada à Arquitectura ou à construção.

No dia em que me apresentei no Serviço, a primeira pergunta que me fizeram foi esta: “Quem é que é a sua cunha cá dentro?”

Eu fiquei sem palavras... eu não tinha cunha nem conhecia ninguém... hoje, passados mais de vinte anos e tendo em conta tudo o que já vi e vivi estou convencido que, na altura, houve um engano qualquer...

Anónimo disse...

Caro Colega

Sou seu colega na CML e como arquitecto, também a mim fizeram essa mesma pergunta, "...eu sou o Dr....e quem é o seu padrinho?", mais tarde soube que nem sequer era Doutor!!! Coisas!
Tive sorte no concurso, houve desistências e por isso acabei por entrar. Como à minha frente estava um colega que o pai já trabalhava na CML, presumo que a partir do meu lugar ninguém mais tinha cunha.
Mas meu caro João se soubesse o que sei hoje preservava e acarinhava a sua liberdade, e procure emprego noutro lado. Procure mas mantenha o seu espírito livre, pois acredite temos muitas saudades.