sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Os nossos dilúvios...


Há muito... muito tempo atrás, escrevi aqui uma história sobre um deserto e um dilúvio. Pensava eu que estava a ser original!

Agora, recebi um e-mail que fala de um outro dilúvio. São coisas diferentes, mas que andam por aí...

Aqui fica o texto do e-mail:

“Um dia, o Senhor chamou Noé que morava em Portugal e disse-lhe:

- Dentro de 6 meses, farei chover ininterruptamente durante 40 dias e 40 noites, até que todo o Portugal esteja coberto pelas águas.
Os maus serão destruídos, mas quero salvar os justos e um casal de cada espécie animal.
Vai e constrói uma arca de madeira.

Chegada a altura, os trovões deram o aviso e os relâmpagos cruzaram o céu.

Noé chorava, ajoelhado no quintal da sua casa, quando ouviu a voz do Senhor soar furiosa, entre as nuvens:

- Noé! Onde está a arca?

- Perdoe-me, Senhor - suplicou o homem - Fiz o que pude, mas encontrei dificuldades imensas:

Primeiro tentei obter uma licença da Câmara Municipal, mas, além das taxas elevadas para obter o alvará,
pediram-me uma contribuição para a campanha do Partido e para a reeleição do presidente.
Precisando de dinheiro, fui aos bancos mas não consegui empréstimo, mesmo aceitando aquelas taxas de juros... Os Bombeiros exigiram um sistema de prevenção de incêndio, mas consegui contornar a situação,
subornando um funcionário.
Começaram então os problemas com o Instituto Florestal para a extracção da madeira.
Eu disse que eram ordens Suas, mas eles só queriam saber se eu tinha o “Projecto de Reflorestamento”
e um tal “Plano Sectorial”.
Neste meio tempo, a Protecção dos Animais descobriu alguns casais de animais guardados no meu quintal.
Disseram-me que eram espécies protegidas!
Além de pesada multa, fui colocado em prisão preventiva pela posse dos animais.
Valeu-me a pulseira electrónica!
Quando comecei a obra, apareceu a Inspecção do Trabalho!
Multou-me porque eu não tinha um engenheiro naval responsável pela construção.
Fui à Universidade Independente e comprei um diploma de engenheiro!
Fecharam a Universidade e tive de pôr o diploma no papelão!
Veio o Sindicato e exigiu contrato de funcionário público para os carpinteiros.
Em seguida vieram as Finanças! Disseram-me que a arca era um “sinal exterior de riqueza“
e agravaram-me o IRS!
Não tive dinheiro para pagar e colocaram-me a arca sob penhora!
Finalmente, quando a Secretaria de Estado do Ambiente pediu o “Relatório de Impacto Ambiental“
sobre a zona a ser inundada, juntei-lhe o mapa de Portugal.
Enviaram-no para o INAG que só vai apreciar o assunto depois de resolver o problema da
Costa da Caparica!

Noé terminou o relato a chorar.

- Senhor! Que hei-de eu fazer mais?

Notou então que o céu clareava e perguntou:

- Senhor, sempre vais destruir Portugal?

- Não! - Respondeu a Voz entre as nuvens - Já vi que cheguei tarde! Alguém chegou primeiro!”

No e-mail original o “alguém” chamava-se “Sócrates”...

Porque será que, tantos de nós, esperamos e escrevemos sobre dilúvios? Que necessidade é esta de só vermos a solução, de tudo o que está errado, num dilúvio divino?

E, lá no fundo, a história até não acaba mal! Portugal acabou por não ser destruído, pelo dilúvio anunciado...

1 comentário:

Anónimo disse...

Boa história arquitecto!!
o pior é que não é história é a realidade em que estamos atolados, até aos ossos, e um dia, vamos todos por água abaixo.