quarta-feira, 13 de maio de 2009

GESTURBIX GRANITICUS - Parte I

Naqueles remotos tempos do Imperador Pinochius Socretinus, Olisipo encontrava-se ocupada pelas hostes do Governador de Província Antonius o Africano, e a hierarquia técnica da cidade encontrava-se dominada pelos seus fiéis seguidores, entre os quais o Senador Salgadus Maximus, a quem todos os arquitectos obedeciam diligentemente.

Todos? Não!

Um pequeno núcleo de irredutíveis arquitectos, agora e sempre, insurgia-se contra o domínio que escravizava a classe…

Entre esses arquitectos incluíam-se Alfamix e Mourarix, os heróis da nossa história.

Alfamix, apesar do seu aspecto algo franzino, era possuidor de um forte sentimento de justiça, o que o levaria a iniciar uma cruzada de revolta contra o sistema instituído, gerador de graves discriminações em relação à classe profissional dos arquitectos olisiponenses, que se encontrava na prática numa posição de subalternização em relação a outras classes.

Mourarix, por outro lado, era uma força da natureza, e dotado de uma enorme dose de teimosia, o que o colocava muitas vezes em posição de contestação e contradição com os seus chefes tribais, embora fosse apreciado pela facilidade em carregar projectos às costas...

Alfamix e Mourarix faziam por suportar o cão Estrategix, que farejava todas as movimentações da Coorte de Apreciação de Projectos de Palácios de Olisipo, embora soubessem que o canídeo apenas reconhecia como donos os Senadores da clique dominante, que lhe iam atirando uns ossitos para roer permitindo-lhe garantir a sua difícil subsistência, e aos quais pagava roendo os tapetes que pisavam, na esperança que tropeçassem e fossem substituídos por outros Senadores igualmente ou mais generosos…

No enquadramento e status quo então vividos em Olisipo, graças à preponderância adquirida pela classe dos escribas desde ocupações anteriores (na linha da Pax Blocus Centralis...), e pela aplicação de uma regra imposta na sequência de uma anterior invasão Napoleónica (sim, Napoleónica… não se deixem baralhar pela cronologia dos factos!), os arquitectos da Coorte apenas podiam registar os projectos numa pedra denominada Gesturbix Graniticus.

Ora este tipo de pedra, como o próprio nome indica, era um material difícil de movimentar, já para não falar na quase impossível empreitada de o submeter ao cinzel, arte que constava da lista de tarefas dos arquitectos de Olisipo.

Além de se partir aos pedaços quando era martelada com alguma insistência, tinha ainda a particularidade de os ditos bocados, impulsionados pelo impacto do cinzel na pedra (vulgo actuais rato e teclado…), adquirirem um movimento absolutamente erróneo, correndo-se o risco de atingirem um qualquer superior hierárquico, que não o visado pela cinzelada submetida…

A menos que por qualquer imponderável motivo imputável a Servidorius, entidade superior e divinamente invocada em situações mais difíceis, a pedra bloqueasse, caso em que pura e simplesmente os bocados não iam parar a lado algum!

E os arquitectos, espécie irreverente e criativa por natureza, almejavam esculpir também em outros tipos de pedras, porventura mais macias ou versáteis, não querendo limitar-se ao uso exclusivo, redutor e monolítico da Gesturbix Graniticus…

continua…

1 comentário:

"O Arquitecto" disse...

Um Grande Arquitecto é sempre um Grande Arquitecto!
PARABÉNS, Numérobis!
A História está soberba...sendo certo que não é para todos...
Sem dúvida que valeu a pena esperar da tua longa viagem à Gália.
Fico espectante em relação à continuação...espero que no mínimo seja tão espectacular como este início, para me rebular a rir.
Havia quem não acreditasse no Grande Arquitecto Numérobis...espero que tenham aprendido a lição.
A tua história vem provar, de forma inequivoca, que nem todos os Arquitectos Camarários são mediocres, não têm criatividade, imaginação e espírito crítico.
Ficamos a aguardar a continuação e...muitos parabéns!