domingo, 24 de maio de 2009

O FISCAL

Ser fiscal é uma das profissões mais diversificadas e ambíguas que existem na Câmara. Antigamente havia os de receitas, os de obras, os dos mercados, e os fiscais gerais, pau para toda a obra.
Ainda hoje, mete respeito em algumas áreas, quando alguém se apresenta…
– Eu sou fiscal da Câmara!
Antigamente o fiscal tinha um cartão que em vez de dizer Câmara Municipal de Lisboa dizia Ministério da Administração Interna (As Câmaras estavam sobre a alçada daquele Ministério) e tinha duas listas obliquas na parte superior esquerda, uma vermelha outra verde, tipo bandeira Nacional.
O Fiscal exibia esse cartão e todos lhe guardavam respeito.
Hoje em dia, já nem a polícia, armada até aos dentes, é respeitada!

Trago-vos uma pequena história verdadeira dum amigo que foi fiscal nesta Câmara e que por ter alguma graça quero agora contar:
Este meu amigo era fiscal geral, ia aos locais e fazia informações do que observava e submetia a despacho do seu chefe hierárquico.
Estes relatórios escritos na sua caligrafia de letra inglesa, que aprendeu a fazer no curso comercial, toda muito certa e muito bem desenhada.
Depois de pronta a informação, para se armar em pessoa importante e culta pegava no seu dicionário “ Torrinha” e sem que ninguém se apercebesse do truque, lá se punha a substituir as palavras por sinónimos de forma a impressionar o Chefe! E os colegas!

“ Na propriedade encontra-se um monte de lixo… “ ele complicava a sua informação “ Na pertença legítima encontra-se um acervo de escória…”
e um burro preso a um freixo através de uma rédea… e um mamífero solípede preso a uma oleaginácea através de uma habena….

- Mas que bonito! Impressionante! Isto sim! Soa bem!
E repetia a frase em voz alta para mostrar a ênfase e apreciar o impacto que causava.
Para alguns, ele era o maior, escrevia coisas que eles não conseguiam nem escrever nem entender e ficavam de boca aberta!
Os mais velhos desconfiavam das suas artimanhas e perguntavam-lhe.
- Como é que escreves essas coisas tão inteligentes? Tu a falar, não empregas esses termos tão eruditos?

Quem não gostava nada desta brincadeira era o chefe, que para o entender teve de comprar um dicionário, também do “Torrinha” e passar ele a desmontar a armadilha das informações.
Os colegas não quiseram ficar atrás e começavam a imita-lo e desataram a fazer informações arrevesadas muito eruditas que punham os cabelos em pé ao chefe.
O serviço deixou de funcionar, pediu ajuda ao Chefe de Divisão que o aconselhou a acabar com verborreia intelectual que acerbava nas informações

A questão só ficou resolvida quando o chefe, depois de ter batido com a cabeça nas paredes, concluiu qual a causa do mau funcionamento dos serviços e decidiu:
Retirar o meu amigo da fiscalização e pô-lo de castigo no gabinete a supervisionar as informações dos colegas, dada a sua vocação. E lá voltou tudo à normalidade.
A grande chatice é que acabaram as visitas ao campo que tanta satisfação lhe dava e resolveu pedir a demissão. Foi para a sua terra natal.

Hoje o nosso fiscal é presidente da Junta de Freguesia de uma aldeia perto de Lisboa.
Numa visita recente que fiz, a seu convite, para a criação de um equipamento comunitário, recordamos com saudade aquele tempo.
E desabafou!
-Hoje tenho que chegar à população tenho que dizer coisas que as pessoas entendam e prefiro o saber popular.
Tive oportunidade de constatar que a população o respeita e trata com carinho e que se sente muito feliz naquele cargo, ajudando a população.
Depois da conclusão da obra de arquitectura do tal equipamento, ofereceu-me o livro do António Aleixo do qual tirei ao acaso estas quadras que se ajustam à sua história.




Os novos que se envaidecem
P’lo muito que querem ser
São frutos bons que apodrecem
Mal começam a nascer

Engraxadores sem caixa
Há aos centos na cidade,
que só usam da tal graxa
que envenena a sociedade

Mas que inteligência rara!
E julgas-te uma competência!
Nem sei como tu tens cara
P’ra ter tanta inteligência!

2 comentários:

Sylvie de La Rochefoucauld et Bouchra Alami-Poitiers disse...

Ò Sr. vá dar sangue.
O que é que isto contribui para a minha felicidade, deixe-se de histórias palermas. Primeiro foi a sua mulher, depois vem o personagem animado, agora é o fiscal coitadinho.
Ò senhor quando é que você percebe que estas histórias não interessam para nada.
Enxergue-se homem.
Escreva sobre questões importantes, - a incompatibilidade, a acumulação das funções, a exclusividade, o pagamento ou não das cotas da ordem, ajude a esclarecer os arquitectos que lêem este blog.

O Galego disse...

Eu não escrevo para que a Madame seja feliz, isso tem que pedir a outro.
Eu escrevo o que "EU" acho importante, no momento, e não o que a Madame quer.
Quanto à palermice das histórias aconselho-a a ler outra vez e mais outra.
Se continua a não perceber o que tem que fazer é passar para o post seguinte ou mudar a cor do cabelo