quarta-feira, 15 de julho de 2009

ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL

(Para variar, apenas umas pequenas reflexões)
Todos os dias leio coisas sobre arquitectura sustentável e procuro encontrar uma definição que me satisfaça ou me esclareça plenamente do significado de sustentável na arquitectura.
Será que existe arquitectura que não seja sustentável?
Para mim tudo o que não seja sustentável não é arquitectura!
Ou será que se referem a quem vive da arquitectura, quem projecta e se sustenta à custa da produção arquitectónica?
Com a crise, os pequenos ateliers foram desaparecendo e hoje só existem dois tipos de gabinetes : Os grandes ateliers e os que trabalham em nome individual em casa e fazem o seu próprio projecto ou projectam para amigos de vez em quando sem hipótese de se sustentar da arquitectura.
Habitualmente este tipo de arquitectura vem associada a arquitectura que aproveita os materiais locais ou mesmo materiais que são reciclados tipo a terra misturada com palha (adobe) , como se fazia no Alentejo e Algarve ,a taipa, como se faziam os tabiques com madeira e barro, pneus com terra amassada no interior etc.
Na net vejo como exemplo uma barraca de madeira e chapas de policarbonato, nas partes translúcidas, que uns colegas arquitectos construíram em Arruda dos Vinhos. Fizeram uma sequência de fotos e lá vejo uma cara conhecida da Câmara nestas experiências.
Também um Arquitecto Chinês LI HU se intitula o rei da arquitectura sustentável e tem um projecto na china que é idêntico ao que o arquitecto fotografou em Cascais os edifícios do Estoril Sol e que designa por arquitectura sustentável.



Mas se a arquitectura sustentável é esta, (à base de materiais reciclados) tenho que vos contar então aquilo que considero o embrião da arquitectura sustentável em Portugal :

A casa do cigano

Trabalhava eu no realojamento da DSH e houve necessidade de realojar os moradores de um núcleo de barracas existentes onde hoje é a Estação do Metro do Colégio Militar.
Estivemos a filmar as barracas e tivemos necessidade de ver o filme. O cigano ofereceu a sua barraca e a sua aparelhagem para ver se estava tudo bem filmado. Naquele tempo eu não sabia o que era um DVD nem conhecia ninguém na roda dos meus amigos que dispusesse de um aparelho daquelas.
Quando chegámos à barraca… meus amigos… tinha uma parabólica maior que a barraca.
A barraca era de madeira por dentro, mas por fora estava revestida com pacotes de leite!
Ficámos espantados porque era a única barraca com aquelas características, e o cigano explicou:
- Forrei a barraca com pacotes de leite por causa da humidade.
- Mas com pacotes de leite? E como é que isso funciona?
- Sabe os pacotes no interior tem uma película de estanho e isolam completamente a barraca em termos acústicos e térmicos e impermeabiliza a barraca. Vejam que a aparelhagem não tem um pingo de humidade.
As coisas que o cigano sabia!

E lá nos foi avisando: Arquitectos saibam que a minha casa lá prós lados do Matadouro, onde vou ser realojado, tem que ter pelo menos as condições que esta barraca tem, porque senão, não ponho lá os pés!

Finalmente encontrei a definição que me satisfaz
A arquitectura sustentável - É um processo em permanente evolução que enfoca estratégias inovadoras e tecnologias para melhorar a qualidade de vida quotidiana. A sua abordagem envolve principalmente:
directrizes de projecto formais e espaciais ;
eficiência energética na construção e sua manutenção;
aproveitamento de estruturas pré-existentes;
especificação de materiais utilizados;
e plano territorial envolvendo a protecção de contornos naturais.

6 comentários:

Numerobis disse...

Ó Galego, a arquitectura sustentável é de facto o que concluis no final do teu texto!
Porque a outra que referes, a do Estoril, é dificilmente sustentável, e mesmo assim só por alguns (poucos)...

"O Arquitecto" disse...

Parabéns pelo teu texto!
Admiro a forma calma como falas do assunto dos Ciganos.
Como sabes fui eu que fiz o projecto das casas(?) para realojar aqueles Seres!
E, ainda hoje, passados mais de vinte anos, me sinto revoltado pelas "mordomias" dadas pela CML àquele tipo de individuos que não passavam de um grupo de oportunistas!
Este comentário não tem nada a ver com racismo! Tem a ver somente com a realidade.
Para quem tiver dúvidas aconselho uma pequena investigação para verem onde estão hoje os ditos Ciganos da Estação de Metro do Colégio Militar!

"O Arquitecto" disse...

Só mais uma nota:
Esqueceste-te de dizer que o dito cigano tinha telefone fixo e electricidade na barraca!
Ainda hoje me pergunto como?

Sandokan Francisco disse...

Está descoberta uma nova vanguarda na arquitectura: O Lelicismo! De facto, a estética e a funcionalidade arquitectónica presente nas moradias dos Lelos, merecem um olhar atento e profusas dissertações de doutoramento.

Talvez as reformas de Bolonha possam prever esta vanguarda nos curricula dos cursos de arquitectura:

1º ano
- Introdução ao Lelicismo
- Estética da barraca portuguesa
- Técnicas de reclamação Lela

2º ano
- Lelicimo aplicado I
- Antropologia Lela
- Técnicas de defesa pessoal anti-Lela

3º ano
- Lelicismo aplicado II
- Gramática e linguajar Lelo
- Técnicas de Insonorização Lela

Temas de Seminário
- A iconografia bélica na estética arquitectónica Lélica
- Ordenamento do território Lelo:zonas non-passeandi e àla qué Cardoso!
- O RGEU na arquitectura Lela:contributos para a sua não-aplicação
- Pós-modernidade Lela: a desconstrução de uma caixa de Multibanco.

Anónimo disse...

Onde posso inscrever-me ?

Anónimo disse...

Correcção:

O arquitecto não é LI HU, mas sim Steven Holl, o sr LI HU participou com o Steven.